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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Numerais egípcios

O sistema de numeração utilizado no Egito antigo pode ser descrito, em terminologia moderna, como um sistema decimal não posicional (valor de posição). Tanto na escrita hieroglífica, como na hierática, que se desenvolverem a par desde 3300 a.C. (Imhausen) os egípcios utilizavam diferentes símbolos para 1 , 10, 100 , 1000, 10 000 , 100 000 e 1 000 000.

Símbolos da escrita hieroglífica 
Encontra-se, essencialmente, em túmulos, em monumentos e objetos de pedra.


Não se conhece a razão da escolha dos símbolos que representavam cada um dos números.
O número 1 era representado por um traço simples, o número dois por dois traços, etc. O número 10 é representado por uma asa de cesto, de acordo com alguns autores, mas de acordo com outros representa um  ...: O número 100 é representado por uma corda enrolada, uma possível hipótese para tal representação pode ser o facto de se utilizar uma corda com 100 cúbitos ter sido utilizado como medida para determinar as dimensões desconhecidas de terrenos.  
110100100010 000100 0001 000 000
Z1
V20
V1
M12
D50
I8
C11

O número 1000 é representado por uma flor de lótus. O 10 000 por um dedo - mais uma vez, uma possível hipótese para tal representação pode ser o facto  de 10 000 ser 10 vezes de 1000 e, assim, criar a associação aos nossos dez dedos. O número 100 000 foi representado pelo hieróglifo de um girino - provavelmente devido ao facto de terem observado de que estes aparecem muitas vezes em grande número. O maior símbolos egípcio para um número foi um deus sentado que representa  1 000 000, ou de acordo com alguns autores uma quantidade muito elevada, mas naõ específica.

Para escrever um número específico, cada um destes símbolos era repetido tantas vezes quantas as necessárias.

Placa identificadora em osso encontrado num túmulo (3100 a. C.)
Por exemplo, na placa da imagem está escrito o número 135, utilizando-se uma vez o símbolo de 100, 3 vezes o símbolo de 10 e 5 vezes o símbolo de 1.  
Como o sistema egípcio era não  posicional, os símbolos, especialmente os que representam os números menores (1, 10 e 100), eram agrupados de forma adequada, para caber no espaço disponível ou para uma melhor representação gráfica. Por exemplo, no caso da placa da figura acima, os símbolos estão escritos de cima para baixo do maior para o menor número. Os símbolos também podiam ser representados da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita; mas sempre do maior para o menor, mudando a sua direção, tal como se descreve na tabela abaixo:


Como o sistema de numeração egípcio era não posicional não existia um símbolo para o zero, para escrever 205 bastava não representar o símbolo de dez.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Área de retângulos


No Egipto


Tanto o papiro egípcio de Moscovo como o de Kahun, do 2.º milénio a.C.,  contém problemas envolvendo áreas de figuras que são, pelo menos aparentemente, retângulos. Em ambos os casos as áreas são calculadas tal como o fazemos hoje em dia, ou seja, multiplicando o comprimento pela largura.

Um dos problemas do papiro de Kahun refere que:


A área de 40 cúbitos por 30 cúbitos deve ser dividida em 10 áreas, cada uma das quais com uma largura de 1/2 e 1/4 do seu comprimento.

A área do rectângulo grande é calculada multiplicando as suas dimensões, ou seja, fazendo 40 x 30 = 120

Outras culturas


A área do rectângulo grande é calculada multiplicando as suas dimensões, ou seja, fazendo 40 x 30 = 120.

A área de rectângulos parece ter sido conhecida por todas as civilizações e não ter levantado qualquer tipo de questões. Os Babilónios também a conheciam e calculavam-na através do produto do comprimento de dois lados adjacentes do retângulo.

Última actualização 16-04-2007

sábado, 30 de novembro de 2013

Cálculo de áreas

A necessidade de calcular áreas de terrenos levou várias civilizações a desenvolver técnicas para o fazer. Essa necessidade está bem documentada no Egito antigo.


No Egito

A medição de terrenos

A necessidade de medir os campos no Egito é relatada por Heródoto, filósofo grego do século V a.C. Segundo Heródoto sempre que o Nilo inundava era necessário determinar a quantidade de terra que os agricultores perdiam, uma vez que deveriam pagar uma taxa, ao rei Sesostris III (cerca de 1872-1853 a. C.), que deveria ser proporcional à taxa imposta antes da inundação das terras.


Quando o Nilo transborda, cobre o Delta e as terras chamadas Líbia e Arábia, numa distância de uma viagem de dois dias desde as duas margens, …, não consegui saber nada da sua natureza, nem dos sacerdotes nem de qualquer outra pessoa. Tinha curiosidade em saber por que é que o rio transborda durante cem dias desde o solstício de Verão, …, e o rio está baixo durante todo o Inverno até transbordar de novo no solstício de Verão. …
Por esta razão o Egito foi dividido. Disseram-me que este rei (Sesóstris) repartiu todo o país entre os egípcios, dando a cada um uma porção igual de terra, e fê-lo sua fonte de rendimento, avaliando o pagamento de um tributo anual. E se qualquer homem que fosse roubado pelo Nilo de uma porção de suas terras podia dirigir-se a Sesóstris e expor a ocorrência, então o rei enviaria um homem para verificar e calcular e parte pela qual a terra tinha sido reduzida
, de tal forma que a partir dessa altura ele deveria pagar proporcionalmente ao tributo imposto originalmente.
Esta foi a forma como, na minha opinião, os Gregos aprenderam a arte de medir a terra; os relógios de
 
sol, os gnomos e as doze divisões do dia, vêm para a Grécia da Babilónia e não do Egito.
Heródoto (II, 109)

Embora Heródoto tenha relatado história mais de 1000 anos após Sesóstris ter vivido, parece não haver dúvidas de que os antigos egípcios colectavam taxas, ou pelos menos impostos. Pelo menos, esse parecia ser um dos deveres dos escribas egípcios de acordo com o texto de cerca de 1250 a.C. «A educação de Amenemope». 

A educação de Amenemope, 1250 a. C.
Os escribas tinham como funções registar as fronteiras das terras, os impostos, as terras, e ao medi-las deveriam ser cuidadosos ao utilizar a corda. Esta medição deveria ter como objectivo determinar a área do terreno, tal como relata o seguinte extrato.

Que registas as marcas das fronteiras dos terrenos.
Que fazes, para o rei, a sua listagem de taxas.
Que registas as terras do Egito.
O escriba que determina as oferendas para todos os deuses.
Que dás a escritura das terras ao povo.
O fiscal dos cereais, provedor da comida.
Que forneces os celeiros, de cereais…
Não movas as marcas das fronteiras dos terrenos.
Nem movas a posição da corda de medir.
Não sejas mesquinho no cúbito de terra.
Nem invadas as fronteiras da janela.
The Instruction of Amenemope, New Kingdom
M. Lichtheim, Ancient Egyptian Literature, Volume II,  pp. 448

Escriba inspeccionando a pedra de fronteira dos terrenos, túmulo do escriba Nebamun (1400 a 1390 a.C.)

As cordas de nós

Para medir os terrenos os escribas utilizavam uma corda com nós. Há várias representações de harpedonaptae, esticadores de cordas, tal como, Demócrito1 (cerca de 410 a.C.) os denominava, em túmulos egípcios. Por exemplo, no túmulo de Menna, escriba que terá vivido, provavelmente no século XIV a.C., encontra-se uma pintura dos esticadores de cordas, uma outra pintura com esticadores de cordas encontra-se no túmulo do escriba Djeserkareseneb, também da mesma época.

Esticadores de cordas, túmulo de Menna (século XIV a. C.)
Esticadores de cordas, túmulo de Djeserkareseneb (1405 a 1395 a. C.)
Os nós poderiam servir como subdivisões, e as cordas mediam, provavelmente, um cúbito real2.

Das cordas às áreas de terrenos

Há evidências de que os egípcios sabiam calcular, pelo menos aproximadamente, a área das terras. Nos papiros egípcios, mais antigos, com conteúdos matemáticos, o papiro de Rhind , de Moscovo, e de Kahun, do 2.º milénio a.C., contém problemas referentes a áreas de terrenos, envolvendo triângulos, retângulos e outros quadriláteros.

Os egípcios utilizam métodos aproximados de cálculo das áreas dos terrenos, provavelmente, porque seria extraordinariamente difícil determinar com precisão a sua área, o que envolveria nalguns casos ter de dividir  terreno em retângulos e triângulos o que não seria praticável. Alguns autores são da opinião de que os egípcios conheciam a regra para o cálculo da área de triângulos, mas que a dificuldade de, no terreno, determinarem a sua altura relativamente a uma base levava-os a utilizarem, apenas, uma estratégia aproximada para o seu cálculo.


Notas
1
 Demócrito, citado por Clement de Alexandria (c. 215), terá afirmado: “Na construção de linhas, com demonstrações, ainda ninguém me surpreendeu, nem mesmo os Harpedonatae do Egipto”
Provavelmente as cordas tinham 100 cúbitos de comprimento. O cúbito variava entre 52,3 to 52,9 cm.

Página criada em 2007

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Corda dos 13 nós

Consta que os antigos egípcios construíam triângulos retângulos utilizando uma corda dividida, através de nós, em 12 espaços iguais.   

 

Com uma corda atada como esta, que outros triângulos se conseguem construir? (Cada vértice do triângulo deve coincidir com um nó.) 

Que outros polígonos regulares se conseguem construir - ou seja, polígonos com lados iguais e ângulos iguais?


traduzido e adaptado de 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

História da Matemática no Egito


Registo no túmulo do Rei Namer, fundador da 1.ª dinastia, provavelmente do resultado de um conquista. As gravações registam um saque de 400 000 bois, 1 422 000 cabras e de 120 000 escravos.

Por volta do ano 3000 a.C. o Egito transformou-se numa nação única. Foi o desenvolvimento da agricultura, que decorreu nesse período, que levou, por sua vez, à necessidade de se saber a altura da estação das enchentes do Nilo, e consequentemente à elaboração de um calendário. O estudo da astronomia deu resposta a esta necessidade.

Por outro lado, a administração do território, fez surgir a necessidade de registar e de calcular para se proceder, por exemplo, à cobrança de taxas.


São também deste período os primeiros pirâmides, os cemitérios com diversos túmulos que nos dão uma ideia, consoante a sua dimensão, da estratificação social do antigo Egito; desde as pirâmides de grandes dimensões, com vários quartos, a túmulos mais pequenos com apenas um "quarto". É nos túmulos que aparecem as primeiras evidências de registos numéricos e da escrita, como forma de registar os bens dos mortos e o seu poder!

Início da escrita e da representação numérica

A mais antiga evidência da escrita egípcia, é ainda anterior à unificação do Egito, aparece em pequenas placas encontradas no túmulo de Uj, datado de 3300 a.C.  
Os achados de túmulo Uj incluem pequenas marcas inscritas com representações de números (na sua maioria grupos de traços verticais) e sinais pictóricos. Estes são hoje interpretados como marcas que tinham sido anexadas a objetos funerários (que desde então desapareceram) a fim de registar a sua quantidade e, possivelmente, a sua proveniência. 


Placas encontradas no túmulo de Uj, datado de 3300 a.C.
As 4 placas da direita, representam, de cima para baixo os números: 6, 6, 9 e 8, respetivamente. 

Os egípcios, desde do início, desenvolveram dois sistemas de escrita:
Os numerais escritos em hieróglifos encontram-se em túmulos, em monumentos e objetos de pedra. Dão pouca informação sobre como eram realizados os cálculos com o sistema numérico desenvolvido.


Numerais (hieróglifos) do templo de Karnac

- Os numerais registados em objetos feitos de cerâmica outras superfícies adequadas, eram pintados, com tinta e pincel. Ao passarem para a escrita em papiro, e para a escrita necessária na vida diária, os egípcios utilizaram este sistema de escrita que era mais rápido. A escrita hierática, que foi utilizada até cerca de 800 a.C.


Numerais (hieráticos) do papiro de Rhind


Os papiros matemáticos

Os conhecimentos que temos da matemática egípcia provêm, essencialmente, de dois textos escritos em papiro: o papiro de Rhind (1600 a.C.) e o papiro de Moscovo (1800 a.C.). No entanto pensa-se que os conhecimentos matemáticos neles contidos datam de uma época anterior, provavelmente, mesmo do início da civilização egípcia. Certo é que o papiro de Rhind foi copiado de outro da mesma época do papiro de Moscovo.
Uma vez que estes papiros são compostos por problemas, e pelas suas resoluções, alguns dos quais elementares, supõe-se que eles tinham intenções puramente pedagógicas e que eram basicamente destinados ao ensino dos funcionários do estado, dos escribas. A partir destes temos acesso apenas a uma matemática elementar. Não se sabe se os egípcios tinham, ou não conhecimentos matemáticos mais avançados, no entanto, os monumentos por eles construídos levam a pensar que na realidade os arquitectos eram possuidores de conhecimentos não revelados nos papiros.
Outros papiros, da mesma época, são o papiro de Berlin, que contém dois problemas que envolvem equações do 2.º grau e o papiro de Kahun.
A Matemática egípcia é conhecida pelas suas fracções unitárias. As fracções eram necessárias porque sendo, por exemplo, os salários pagos em pão e cerveja era muitas vezes preciso dividir esses bens pelos diferentes trabalhadores. Por outro lado, o processo que utilizavam para dividir, dividindo sucessivamente por dois, conduzia muitas vezes a fracções.

Os papiros referidos provém todos da mesma época (Império Médio), de uma época de alguma estabilidade, em que imperava o comércio com outros povos e a agricultura viu um grande desenvolvimento. Contudo, apenas se conhece a proveniência do papiro de Kahun, que foi encontrado em Kahun, uma vez que os outros três foram comprados em mercados e não foram achados em nenhuma exploração arqueológica (Imhausen, 2007).
Desde o Império Médio até ao período Persa, não são conhecidos papiros com conteúdos específicos da matemática. Isto não significa que não tenha havido qualquer tipo de estudo da matemática no Egito; não nos podemos esquecer que o papiro é muito frágil e que a sua conservação não é fácil. Poderão, portanto, ter desaparecido muitos papiros ou poderá realmente não ter havido desenvolvimento matemático nesse período de cerca de 1000 anos. Mas tal é difícil de acreditar uma vez que o Egito passou durante este período por algumas fases de estabilidade e prosperidade.
Ainda assim, conhecem-se deste período vários ostracas, provenientes de Deir-el-Medina (localidade onde habitavam os construtores das pirâmides do Vale dos reis), alguns dos quais envolviam cálculos de volumes, provavelmente relacionados com a construção das pirâmides (Imhausen, 2007).

O Egito esteve sob o domínio Persa durante dois períodos, de 525 a.C. a 404 a.C. e de 343 a.C. a 332 a.C. (Imhausen, 2007). Um dos papiro da época Persa, do século III a.C, que chegaram até nós, é o papiro de Cairo onde se encontram vários problemas com o teorema de Pitágoras. Este papiro denota uma forte influência Babilónica.  O papiro de Cairo está escrito num outro sistema de escrita desenvolvido a partir da hierática no Egipto - a demótica, neste mesmo sistema estão escritos outros papiros posteriores a este.
Quando em 332 a.C. o Egito foi conquistado por Alexandre, o Grande, o Egito passou a fazer parte do mundo Grego e em 30 a.C. passou a ser uma província Romana (Imhausen, 2007).
Tanto no período Ptolemaico (332 a.C. a 30 a.C.) e como no Romano (30 a.C. a 395), encontram-se papiros escritos em demótico. Repare-se que neste período os faraós egípcios, a partir de Ptolomeu I, eram Gregos, e embora tenham adoptado alguns costumes egípcios, falavam grego e pensavam que a cultura grega era melhor, se assim se poder dizer, que a egípcia. Não nos podemos esquecer que é nesta altura que os matemáticos Gregos, como Euclides, trabalham em Alexandria, e que maior parte da produção matemática realizada no Egipto é escrita em grego e considerada, por isso, matemática grega.

Página criada em 2001
Última actualização 30-11-2013